quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Lira I

Já não cinjo de louro a minha testa
Nem sonoras canções o deus me inspira.
            Ah! que nem me resta
            Uma já quebrada,
            Mal sonora lira!

Mas neste mesmo estado em que me vejo,
Pede, Marília, Amor que vá cantar-te:
            Cumpro o seu desejo;
            E ao que resta supra
            A paixão e a arte.

A fumaça, Marília, da candeia,
Que a molhada parede ou suja ou pinta,
           Bem que tosca e feia,
           Agora me pode
           Ministrar a tinta.

Aos mais preparos o discurso apronta:
Ele me diz que faça no pé de uma
           Má laranja ponta,
           E dele me sirva
           Em lugar de pluma.

Perder as úteis horas não, não devo;
Verás, Marília, uma idéia nova:
           Sim, eu já te escrevo
           Do que esta alma dita,
           Quanto amor aprova.

Quem vive no regaço da ventura
Nada obra em te adorar, que assombro faça;
            Mostra mais ternura
            Quem te estima, e morre
            Nas mãos da desgraça.

Nesta cruel masmorra tenebrosa
Ainda vendo estou teus olhos belos,
            A testa formosa,
            Os dentes nevados,
            Os negros cabelos.
.
Vejo, Marília, sim; e vejo ainda
A chusma dos Cupidos, que pendentes,
            Dessa boca linda,
            Nos ares espalham
            Suspiros ardentes.

Se alguém me perguntar onde eu te vejo,
Responderei: "No peito", que uns Amores
            De casto desejo
            Aqui te pintaram,
            E são bons pintores.

Mal meus olhos te viram, ah! nessa hora
Teu retrato fizeram, e tão forte,
            Que entendo que agora
            Só pode apagá-lo
            O pulso da morte.

Isto escrevia, quando, oh! céus, que vejo!
Descubro a ler-me os versos o deus louro:
            Ah! dá-lhes um beijo,
            E diz-me que valem
            Mais que letras de ouro.

Douglas nº: 09 1º ano E

6 comentários:

  1. Nesta lira, o eu lírico, já está preso e com isso diz que sente saudade de Marília e que se sente infeliz por não ter por perto sua amada. Diz também que deus não o inspira para criar novas canções, e que perdeu tudo, menos a lembrança do rosto de Marília, que segundo ele, só poderá ser apagado com a morte.As características do Arcadismo que encontrei na lira é a idealização da mulher amada(no caso Marília),objetividade pois vai “direto ao ponto digamos assim”, sem enrolar muito para chegar ao seu raciocínio.A situação histórica, penso que o eu lírico já estava preso.
    Cinjo*=Rodear
    Candeia*=Lâmpada formada por barro.
    Regaço*=Lugar de repouso.

    Douglas Vieira
    N°:09
    1°E

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  2. Concordo plenamente com o comentário de Douglas. Pelo meu ver, o mesmo colocou muito bem os fatos citados, enfatizando-os corretamente. A parte do Arcadismo também segue o seu real conceito.

    Nathan Ferraz ; Nº 31 ; 1º E

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  3. Concordo com o comentário do Douglas e do Nathan. O autor realmente sente saudades de Marília e e como falou o Doulas o eu lírico, já está preso.

    João Matheus;Nº 18 ; 1º E

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  4. Concordo com a interpretação, a lira realmente é bem triste e ainda por ser uma das primeiras liras escritas na prisão é uma dasm ais tristes, achei boa a análise do Douglas e achei bem objetiva, tanto a análise quanto a lira.
    Thiago Soares Silva; 1°E; N°37

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  5. Também concordo com a interpretação feita pelo Douglas pois, na lira o autor está realmente triste devido à ausência de sua amada, Marília, porque ele esta preso.
    Mateus Lopes
    nº 42
    1º E

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  6. Imaginem a dor que Tomás estava sentindo nesse momento, essa segunda parte do livro consegue me passar uma certa angústia, mas deixando de lado esse assunto, concordo com o Douglas e também acredito que ele já estava preso.

    Lucas número: 24 1 ano E

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